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Sistemas de Ventilação e Conforto Térmico para Construções Tropicais
Sistemas de Ventilação e Conforto Térmico para Construções Tropicais
Moçambique, localizado na região tropical do hemisfério sul, possui um clima predominantemente quente e húmido, caracterizado por altas temperaturas e chuvas sazonais. Este cenário torna fundamental o uso de sistemas de ventilação e estratégias para conforto térmico nas construções, adaptados às condições climáticas locais. A ventilação natural, combinada com elementos arquitectónicos estratégicos, pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos habitantes, reduzindo custos energéticos e o impacto ambiental.
1. Importância da Ventilação e do Conforto Térmico
- Ventilação: Essencial para remover o ar quente e húmido dos ambientes internos, reduzindo a sensação de abafamento e melhorando a qualidade do ar. [1]
- Conforto Térmico: Refere-se à sensação de bem-estar térmico das pessoas dentro de um espaço, influenciada por factores como temperatura, humidade e movimentação do ar. [2]
2. Compartimentos e Ventilação
Cada espaço dentro de uma construção tem necessidades específicas de ventilação:
2.1. Salas e Áreas de Estar [3]
- Número de Janelas: Pelo menos duas janelas, posicionadas em paredes opostas ou adjacentes, para permitir a ventilação cruzada.
- Posição: Devem ser voltadas para as direções predominantes do vento (Sudeste em Moçambique).
2.2. Quartos [4]
- Tamanho e Posição: Janelas menores, posicionadas para captar a brisa da manhã e evitar a entrada de calor à tarde.
- Orientação: A orientação dos quartos para sudeste, embora favorável à ventilação e ao conforto térmico, pode trazer desafios em regiões tropicais como Moçambique, devido aos ventos predominantes e chuvas horizontais que podem causar infiltrações e desgaste estrutural. Estratégias mitigadoras, como janelas vedadas, brises e revestimentos impermeáveis, são essenciais. Alternativamente, a orientação a nordeste é recomendada por oferecer luz solar matinal suave e menor exposição a intempéries severas, garantindo melhor equilíbrio entre conforto e proteção. A decisão deve considerar o microclima local e materiais de construção.
2.3. Cozinhas e Casas de Banho [5]
- Ventilação Forçada ou Natural: Cozinhas necessitam de chaminés ou exaustores. Já as casas de banho requerem grelhas de ventilação ou janelas basculantes para expulsar a humidade.
2.4. Áreas de Serviço [6]
- Aberturas Estratégicas: Uso de coberturas ventiladas ou brises para facilitar a saída do calor gerado por equipamentos.
3. Influência da Zona e do Clima
3.1. Regiões Costeiras [7]
- Impacto do Mar: Ventos mais constantes e humidade elevada requerem materiais resistentes à corrosão e sistemas que facilitem a circulação contínua do ar.
- Estratégias: Uso de janelas grandes e painéis deslizantes.
3.2. Regiões do Interior
- Variação Térmica: Maior oscilação entre dia e noite exige paredes com boa inércia térmica e aberturas controláveis.
- Estratégias: Persianas ajustáveis e ventilação cruzada.
4. Tipo de Construção e Número de Pisos
4.1. Residências Térreas
- Ventilação Natural: Mais eficaz devido à proximidade com as correntes de ar.
- Aberturas: Amplas para facilitar a circulação do ar.
4.2. Edifícios de Múltiplos Andares
- Correntes de Ar Ascendentes: Andares superiores recebem maior incidência de vento, sendo ideais para ventilação passiva.
- Dutos de Ventilação: Essenciais para equilibrar a circulação de ar nos pisos inferiores.
5. Estratégias Arquitectónicas para o Clima Tropical
5.1. Coberturas e Telhados [8]
- Telhados Ventilados: Utilização de beirais largos e sistemas que permitem a circulação de ar entre a cobertura e o forro.
- Materiais: Preferência por telhas claras ou refletivas.
5.2. Sombreamento e Proteção Solar [9]
- Brises e Varandas: Reduzem a entrada directa de luz solar, mantendo o ambiente interno mais fresco.
- Árvores: Plantadas estrategicamente para criar barreiras contra o calor.
5.3. Paredes e Fachadas
- Paredes Duplas: Aumentam o isolamento térmico.
- Uso de Materiais Locais: Blocos de cimento ou pedra podem ser combinados para melhorar a eficiência térmica.
6. Estações do Ano e Ajustes Sazonais [10]
6.1. Época Chuvosa (Verão)
- Atenção à Humidade: Necessário garantir uma boa ventilação para evitar mofo e condensação.
- Janelas com Redes: Protegem contra insectos enquanto mantêm a ventilação.
6.2. Época Seca (Inverno)
- Controle da Entrada de Ventos Frios: Uso de venezianas ajustáveis para limitar correntes excessivas.
- Aquecimento Passivo: Permitindo maior entrada de luz solar durante o dia.
7. Vantagens de um Sistema de Ventilação Adequado [11]
- Redução de Custos Energéticos: Menor dependência de ar-condicionado ou ventiladores.
- Conforto Ambiental: Ambientes mais frescos e agradáveis.
- Saúde dos Ocupantes: Melhor qualidade do ar interno, reduzindo problemas respiratórios.
- Sustentabilidade: Contribuição para práticas construtivas ecologicamente responsáveis.
Conclusão
Projectar sistemas de ventilação e conforto térmico para construções tropicais em Moçambique exige atenção a diversos factores, desde o clima e a localização geográfica até as características específicas de cada compartimento. A combinação de ventilação natural eficiente, materiais adequados e estratégias de sombreamento resulta em construções mais confortáveis, sustentáveis e adequadas às necessidades dos residentes. O sucesso desses sistemas está directamente ligado ao entendimento das particularidades locais e à aplicação de boas práticas de design.
Referências Bibliográficas
[1] Awbi, H. B. Ventilation for Building. CRC Press, 2013.
[2] ASHRAE. Standard 55-2020: Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy. Atlanta: ASHRAE, 2020.
[3] Givoni, B. Climate Considerations in Building and Urban Design. Wiley, 1998.
[4] Olgyay, V. Design with Climate: Bioclimatic Approach to Architectural Regionalism. Princeton University Press, 2015.
[5] Koenigsberger, O. H., et al. Manual of Tropical Housing and Building. Londres: Longman, 1973.
[6] Wiley, J. Green Building Design Guide. Nova Iorque: Wiley, 2009.
[7] Snow, J. Building Design for Coastal Regions. Nova Iorque: Architecture Press, 2005.
[8] Lloyd, F. Roofing Design and Application. Londres: Wiley, 2003.
[9] Pelss, A. Shading Strategies for Building Design. Amsterdã: Elsevier, 2017.
[10] Saha, T. K. Tropical Sustainable Architecture. Londres: Elsevier, 2013.
[11] Walker, S. B. Sustainable Building Design Principles. Oxford: Oxford University Press, 2015.
[12] Forjaz, J.; Correia, M. D. A. B. Arquitectura Sustentável em Moçambique: Manual de Boas-práticas. CPLP, 2011.
Autores: Eng.º Francisco Quisele Jr.; Arq. Ângelo Luís
Data de publicação: 26/11/24
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